3.7.25

Terminei de reler os Evangelhos

Então: eu, que não sou exatamente alguém religioso, escrevi que tinha resolvido ler os Evangelhos e terminei agora o último, o Evangelho segundo João, o mais diferente dos 4 canônicos. Os outros 3 tem muita coisa muito muito parecida, em termos de palavras e frases usadas mesmo; li que estudiosos acreditam que o de Marcos foi escrito antes e que Lucas e Mateus o leram antes de escreverem os seus (embora cada um tenhas suas passagens exclusivas). O de João já é bem diferente na linguagem, na escolha de palavras e, embora tenha muitas coincidências com os outros, também na escolha das passagens da vida de Jesus que deveria contar. Além disso, o de João é o único em que o narrador afirma explicitamente que o texto é o testemunho de um dos apóstolos de Jesus, que estava lá para ver tudo aquilo.

Gostei de ter lido, mas gostaria de ler mais sobre a ética proposta por Jesus sobre como devemos tratar uns aos outros durante nossa passagem por esta vida. Ela está lá - e é revolucionária na proposta de não só amar ao próximo como a si mesmo, mas também de incluir até seus inimigos como objetos deste amor -, e os textos contam que os que escutavam seus ensinamentos se maravilhavam com suas palavras e com a autoridade que passava ao proferi-las. 

Mas a maior parte da narrativa me pareceu ter sido escrita com o objetivo de convencer o leitor de que Jesus era mesmo o Messias, através de relatos dos milagres - ou "sinais" - que realizou, de diálogos em que mostrava um conhecimento profundo e inigualável das Escrituras e da demonstração de inúmeras coincidências entre fatos de sua vida e os textos do Velho Testamento; e para dizer que o único jeito de estar bem posicionado quando o Juízo Final chegar é acreditar nisso e seguir seus ensinamentos.

É uma leitura que eu recomendo - porque, afinal, são os textos mais influentes da história da "cultura ocidental" e porque são interessantes mesmo. E recomendo a edição que escolhi, pois Frederico Lourenço, o tradutor, traz muitos comentários bons sobre os desafios da tradução (feita a partir dos originais em grego) e sobre o contexto dos textos, tanto nas notas quanto nas introduções que escreveu para cada um dos livros. 

Realmente gostei de ler agora, com a cabeça que eu tenho hoje e a visão de que aquilo foi escrito por pessoas, de carne e osso, que viviam o contexto de sua época e sua cultura. Fato é que estes relatos sobreviveram relevantes até hoje, coisa de 2 mil anos depois. Por incrível que pareça, ainda precisamos entender o que dizem e de onde vieram os livros sagrados das religiões abraâmicas pra interpretar o que tá acontecendo no Mundo atual. Escrevo isso menos de 2 meses depois de voltar de uns dias a trabalho na Arábia Saudita que me impactaram bastante e em algum momento é possível que eu pegue pra ler o Corão.

Mas, antes do Corão, coloquei na minha fila para ler um pouco mais pra frente - porque gosto de mudar de tema - outro livro do mesmo tradutor/autor, desta vez dedicado a Evangelhos apócrifos - textos dos primeiros séculos do cristianismo sobre Jesus e outros personagens do Novo Testamento que ficaram de fora da "seleção oficial" de textos sagrados.

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