(Me pediram para escrever um texto sobre paternidade e trabalho para a newsletter interna da SISU, holding de que faz parte a Feng, empresa em que hoje trabalho. E o texto é este aí embaixo.)
Foi em 2000, quando tinha 21 anos e era estagiário em uma
pequena agência de publicidade, que soube que seria pai pela primeira vez. Cursei
Publicidade e Propaganda acreditando que um dia trabalharia criando anúncios de
TV, mas naquele momento ganhava um salário mínimo (que, corrigido, hoje daria uns
R$700) fazendo anúncios impressos, principalmente de lojas de móveis e de
tintas.
Na época eu via oportunidades melhores financeiramente em webdesign e em departamentos de marketing de empresas, mas optava por ganhar menos em agência para seguir em um caminho de carreira mais próximo daquela visão inicial. Eu tinha o privilégio de morar com os pais e não ter obrigação de ajudar imediatamente no orçamento.
A paternidade iminente me fez mudar a postura: precisava ganhar melhor, e logo,
pra pagar as contas da criança que ia mudar minha vida. Eu tinha que dar conta.
Comecei a empreender e depois aceitei trabalhar com o
marketing online de uma empresa conhecida. E a responsabilidade como pai foi
fundamental em todas as minhas escolhas profissionais desde então.
Mas minha trajetória de trabalho também tem bastante a ver
com meu pai.
Trabalhando na Feng, liderei muitos grupos de discussão com
torcedores. E sempre ouvi histórias em que a “escolha” do time teve a ver com o
pai. Não foi diferente comigo; hoje é bem claro para mim que manter meu clube
presente na vida é, em grande medida, manter meu pai presente na vida – embora
ele tenha falecido em 2008.
Foi no ano seguinte à sua morte que decidi comprar um título
de sócio do meu clube e gastar tempo entendendo como ele funcionava e como
poderia fazer minha parte para que tomasse um caminho melhor. Entre outras
coisas, passei a publicar textos em blog sobre isso, juntando o conhecimento
acumulado no trabalho ao que lia e ouvia sobre marketing no futebol.
(O engraçado é que, na época, não vi relação entre minha
decisão de radicalizar a aproximação do meu clube e a partida de meu pai. Só
entendi que uma coisa teve a ver com a outra uns dez anos depois, fazendo
terapia.)
Foi assim o contato com a Golden Goal: tive a pretensão de escrever minha visão
sobre o Cidadão Rubro-Negro, um dos projetos da empresa na época, e fui chamado
para trocar ideia. Conversas seguiram e, alguns anos depois, fui convidado a
trabalhar com o Nação Rubro-Negra, o sócio-torcedor do Flamengo. Depois cheguei
a trabalhar no próprio departamento de marketing do clube e voltei na época da
criação da Feng, um grande marco na história do que hoje é o grupo SISU.
Herdei do meu pai ter o clube de coração como parte
importante da minha identidade. Trabalhar com este assunto e tentar ajudar
clubes a levarem a parte boa disso para as vidas de outras famílias é uma forma
de viver ainda mais intensamente esta herança.
Tenho hoje três filhas, de 24, 22 e 9 anos. Sempre estiveram
comigo – sou o caso menos comum, de pai que mora com as filhas após o fim do
casamento – e são muito, muito definidoras de quem sou. Afinal, basicamente
nunca fui adulto sem ser pai. Elas têm algumas coisas muito parecidas comigo e
outras muito diferentes, é muito interessante. E amo elas demais!
Ser pai é exercício de senso de responsabilidade. Também de priorização
do tempo entre múltiplas atividades. De entender, entre o tanto que faço, o que
é necessário, o que é recompensador e o que é prazeroso – e a importância de
separar tempo para tudo isso. De procurar manter minhas ações coerentes com os
valores que quero transmitir. De ter autoridade, não autoritarismo. E, talvez o
principal, de comunicação. O que inclui não só saber se expressar, mas também saber
ouvir.
Nosso modelo de trabalho atual faz com que eu hoje tenha bem
mais tempo na rotina de minha filha mais nova do que tive na infância das mais
velhas. Mas já foi um desafio conciliar paternidade e trabalho. Precisei, na
minha trajetória na Feng, pedir a quem trabalha comigo compreensão sobre isso
em momentos mais delicados; todos foram bastante sensíveis e sou muito grato. Minha
família também tem compreensão quando a exigência aumenta no trabalho e procuro
ter quando o mesmo acontece com minha mulher. Por mais que tentemos separar os
lados “pessoal” e “profissional”, no fim somos uma pessoa só. Não existe
Ruptura real.
Procuro fazer minha parte para que pais e mães na SISU
tenham no grupo um ambiente que os ajude a viver da melhor forma possível suas
relações e responsabilidades com os filhos. E que nossa forma de trabalhar seja
não só um sucesso nas muitas conquistas no mercado, mas também uma influência
para que o mundo seja um pouquinho melhor para eles.
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