21.6.13

Tudo isso que aí está


O povo pediu por 20 centavos. Os 20 centavos vieram - mas em forma de cala-boca provisório, sem qualquer mudança real no sistema, e acompanhados da chantagem de que, para isso, dinheiro poderá ser tirado da saúde ou da educação.


Esta causa não está encerrada! Quem pediu pela passagem tem a responsabilidade de não deixar isso terminar assim.

- Imediatamente: abertura de canal de participação da sociedade na decisão de como será qualquer movimentação do orçamento para manter o preço da passagem de ônibus.

 - Cancelamento da licitação feita em 2010 para as linhas de ônibus e abertura de um processo de reorganização do sistema de transporte público - não é só ônibus o problema! - do Rio de Janeiro, com transparência absoluta e canais definidos para participação da sociedade no processo. Se é nessa que entramos, que entremos para resolver pra valer o problema e isso não vai acontecer sem mexer nos contratos. A lógica toda tem que mudar e o povo tem que ser ouvido para isso.

 - Criação de mecanismos de transparência para o cidadão comum poder enxergar com facilidade (não adianta só botar online num link meio escondido trocentas páginas de documentos técnicos!) o uso do orçamento público e implementação real do orçamento participativo na cidade.


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O que vi ontem, nas ruas, foi uma enorme maioria - centenas de milhares de pessoas - indo fazer terapia de grupo e extravasando sua insatisfação genérica contra tudo isso que aí está. Milhares de cartazes com as mais variadas frases de efeito e demandas; algumas isoladamente até justas, outras tantas rasas e pouquíssimo pensadas por quem as carregava.  Personificava-se a coisa nas cartolinas contra Feliciano e Renan e, nos gritos, contra Cabral, Dudu, Pelé e Ronaldo, fora a Copa do Mundo. Somos mesmo o país do futebol: brasileiro gosta muito de discutir escalação e acreditar que o problema do time se resolve só de trocar o treinador ou barrando o centroavante - quem dera fosse simples assim, tudo seria mais fácil. A impressão é de que ouvir psicólogos sobre o fenômeno talvez fosse mais interessante do que analistas políticos.

No meio, uma minoria usando a multidão para dar contexto a seus métodos violentos, usados sem direcionamento para qualquer demanda concreta. Afinal, invadiria-se a Prefeitura, por exemplo, em nome de que causa mesmo? Não estou muito a fim de servir como uma espécie de escudo para este tipo de coisa.

E, em volta, urubus tentando se aproveitar da situação para direcionarem o discurso da massa e usarem o clima de instabilidade a seu favor. Muito cuidado!

Vai às ruas? É nobre e muita gente precisava mesmo aprender e tomar gosto por se movimentar. Mas tente pensar no porquê - já estamos neste momento. Não torne-se um papagaio repetindo o que qualquer mascarado lhe repassou em forma de viral de YouTube. Você já conversou com algum amigo advogado sobre a tal PEC 37 para formar sua opinião sobre ela? Entende a função do presidente do Senado e sabe como e por quem seria escolhido seu substituto caso o atual deixasse o cargo? Não se deixe manobrar: suas causas têm que ser suas.


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Para além de tudo isso, surgem os bizarros e inaceitáveis relatos de pessoas muito próximas sobre a ação da Polícia Militar. Passei a noite vendo vídeos e lendo de gente mais que confiável o que aconteceu no IFCS, em Laranjeiras, na Glória, na Lapa.

Houve bomba jogada contra o Hospital Souza Aguiar e no teto do bar do Circo Voador. Houve bomba jogada dentro de vagão do metrô que acabava de se abrir, cheio de gente. Houve cerco a faculdades. Houve PM invadindo também com bombas delegacia da Polícia Civil que abrigava gente de bem que fugia de confusão. Houve gente que só tomava sua cerveja e foi sitiada dentro de bar. Houve gás e spray de pimenta invadindo apartamentos longe de "áreas de conflito". Houve veículo blindado com gente atirando a esmo de dentro. Houve bombas e tiros contra gente pacífica, de mãos para o alto, gritando "sem violência!". Houve DJ na Lapa e repórter no Centro tomando bala de borracha na cabeça. Parte disso está na mídia, grande parte não está, mas tudo isso aconteceu. Não se enganem achando que era simples "ação para preservar o patrimônio público" ou qualquer discurso semelhante.

Que máquina de repressão é essa? Que métodos são esses? Quem dá ordem para este tipo de coisa? Que porra é essa?

E aí, neste caso, é pra personalizar mesmo. A responsabilidade pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro é do governador. Alguma coisa tem que acontecer.


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