8.10.12

Não culpem o povo

Não sou comunista, nunca li Gramsci. Não sou militante do PSOL (embora nesta eleição tenha votado em Marcelo Freixo e na legenda do partido para vereador) e não tenho impressão nenhuma sobre o pessoal do partido que se elegeu em Niterói. Também não conheço a professora da UFF (e entusiasta do PSOL) Adriana Facina.


Isto posto: surgiu na minha timeline do Facebook o texto abaixo, que ela publicou por lá. Ao menos o ponto dela sobre a eleição de Eduardo Paes bate muito com o que penso:


Muito feliz com o resultado das eleições no Rio e em Niterói. PSOL ampliou muito sua bancada. Paulo Eduardo Gomes e Renatinho PSol foram os vereadores mais votados e ainda elegemos Henrique Vieira, que fez belíssima campanha. Teremos outra câmara em Niterói. Flavio Serafini despontou como nova liderança política, ganhando muito respeito, mesmo entre seus adversários. E, de quebra, ainda desbancou a campanha milionária do Zveiter.

No Rio, além de ampliarmos a bancada, elegemos Renato Cinco, com uma candidatura que traz o difícil tema do antiproibicionismo. Meu candidato, Mc Leonardo Apafunk, fez uma belíssima campanha, levando informação e debates fundamentais para nossa cultura. Marcelo Freixo se tornou agora um político com expressão nacional e tenho certeza de que sua trajetória está em franca ascensão.

Sei que muita gente está triste, pq não chegamos no segundo turno. Sobretudo aquela rapaziada que estreou agora na militância, nessa campanha tão bonita e inspirada. Para esses eu queria dizer algumas palavras.

Em primeiro lugar, não acreditem que a reeleição do Paes é fruto da burrice ou da alienação,ou mesmo da ignorância do povo. Nosso povo é sofrido e vota com o pragmatismo daqueles que matam um leão por dia pra sobreviver e dar de comer aos seus. Claro que existem os oportunistas, mas são minoria.

A desigualdade do tempo de TV, a campanha nojenta da mídia corporativa e antidemocrática, os rios de dinheiros fornecidos por empreiteiras e empresas de transporte, tudo isso conta. Mas conta mais o dinheiro no bolso, a promessa de emprego, as expectativas de oportunidades de vida. Essa pauta é mais relevante do que a das milícias ou da ética na política, por exemplo. E há uma lógica nisso que temos de reconhecer e dialogar com ela.

Pensem em Gramsci nos cárceres do fascismo, tentando entender a derrota comunista e, mesmo naquelas condições dramáticas, se recusando a dar respostas fáceis e elitistas. O comunista italiano, naquelas condições, afirmava o núcleo de bom senso do senso comum e trazia a máxima radical: todos são intelectuais.

Esse povo que hoje reelegeu o Pae$ é o povo com que faremos a revolução e não outro. É com ele que aprenderemos, é com ele que dialogaremos. Estamos em processo, na luta e com humildade tentando aprender com nossas derrotas. Como diz o grande pensador Carlos Walter Porto Gonçalves, o dia em que conseguirmos nos comunicar com aquelas subjetividades que se entristecem no domingo pq a segunda está próxima, marcando um novo ciclo de exploração do trabalho e de vida sem sentido, faremos a revolução.

Luta que segue. Temos agora a primavera nos dentes. Nada poderá detê-la.


É isso: fato é que Eduardo Paes é um prefeito popular. Quem está insatisfeito com sua vitória, e com o tamanho dela, precisa entender isso sem achar que acontece apenas por manipulação midiática, muito menos por burrice e alienação do povo. Há que se ter menos rancor, se fechar menos em sua própria lógica e compreender melhor os motivos disso. Aqueles que gostariam que a sociedade tomasse outros caminhos precisam se conectar melhor com as vidas das pessoas na hora de preparar propostas e discursos.

E é bom perceber que os outros não são obrigados a concordar com você, e de vez em quando, é capaz até de você estar errado. Na verdade, pra mim o grande foco, diante de tantas distorções que temos em nossa "democracia participativa", deveria ser mudar a política mesmo para aqueles que não têm a mesma opinião que a sua. As regras do jogo precisam ser outras, as formas de participar precisam ser outras.


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O Globo publicou uma lista de promessas de Eduardo Paes a serem cobradas até o fim de seu mandato. Estas aqui são as que eu mais gostaria de ver acontecendo:

- Garantir ensino integral para 240 mil crianças, tendo pelo menos 35% da rede neste regime.
- Transformar o Rio na melhor cidade do país no Ensino Fundamental.
- Aulas de inglês para todos os alunos do 1o ao 9o ano até dezembro de 2014.
- Garantir que 96% dos alunos da rede se formem no 2o segmento até os 16 anos.
- Dobrar a taxa de cobertura da rede coletora de esgoto tratado da Zona Oeste, alcançando o índice de 55%.
- Chegar a 450 km de ciclovias, com a implantação de mais 150km, integrando-as aos terminais de ônibus e ao metrô.
- Implantar UPP Social em todas as áreas pacificadas.
- Urbanizar cem comunidades levando água, saneamento e serviços essenciais.
- Integrar todos os meios de transporte ao Bilhete Único.
- Implantar o Veículo Leve sobre Trilhos no Centro, com sistema integrado ao metrô, aos trens e às barcas.
- Reduzir pela metade o tempo médio de deslocamento dos ônibus nos principais percursos do município com o Ligeirão, e em pelo menos 20% no sistema BRS.
- Alcançar a taxa de 60% de usuários de transporte público que usam ao menos um meio de transporte de alta capacidade (trem, metrô ou Ligeirão).
- Transformar as 33 unidades de administração regional em centros de atendimento ao cidadão.



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