4.10.12

A quem pretende votar em Eduardo Paes


Entendo quem vai votar em Eduardo Paes. Paes foi um prefeito realizador. O bilhete único era promessa antiga e finalmente foi posto em prática, o primeiro BRT já está funcionando. E, como é do grupo do governador Sérgio Cabral, dá pra colocar no bolo as UPPs e as obras em andamento para levar o metrô até a Barra, por exemplo. Vêm aí Copa do Mundo e Olimpíadas, o dinheiro para obras é muito e fica a impressão de que há coisas saindo do papel. Além do mais, a comparação que fica é com o mandato anterior, terrível, de César Maia. Não estamos pior do que estávamos.

Como falei, entendo. E sei que sempre haverá maneiras diferentes de ver a mesma coisa, não existe dono da verdade. Mas gostaria que quem está seguindo este caminho se dê a chance de olhar por outro lado e pensar um pouco melhor – ainda que seja para, no final, não mudar de opinião.

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A questão está na lógica que rege o tipo de política de Eduardo Paes – e ele é só mais um representante de algo bem maior -, que sempre vai fazer com que as coisas não aconteçam da melhor forma possível para todos. Não podemos nos acostumar com isso.

Por exemplo: há críticas à sua incrível coligação de 20 partidos, mas talvez muitos não entendam bem o que isso quer dizer. Os efeitos não se resumem a quase monopolizar o tempo do horário político; eles ficam pelo mandato inteiro. Esta união na base da geleia-geral é feita, óbvio, na base da troca de favores. Não existe convergência ideológica possível entre tanta gente tão diferente e assim são comprometidos verbas e cargos. Leiam este texto da veradora Andréa Gouveia, que não está tentando a reeleição e fez uma boa descrição de como funciona a nossa câmara de vereadores. No fim, a ideia é montar uma base tão larga que não só facilite a eleição, mas também possibilite ao Prefeito fazer depois o que bem quiser, sem qualquer oposição no legislativo.

Mas isso pode ser bom, pois facilita a “governabilidade” e possibilita que o Prefeito coloque seus projetos em prática. Certo?

Bem, acontece que Eduardo Paes tem, de longe, a campanha mais rica, algo que também é preciso entender o que significa. Na verdade, não há candidato no país que tenha recebido mais doações que ele - e 78% são ocultas, de gente que nem quer aparecer. Entre as que aparecem, estão somas consideráveis de construtoras; também sabemos que estão com ele empresas de ônibus. Ele diz que nunca conversou com seus doadores, e você pode tentar acreditar. Mas empresas como estas não são idealistas e pensam, é claro, em seus negócios. Vão querer determinados compromissos.

E é por isso, por exemplo, que Eduardo Paes promoveu em seu governo uma licitação de linhas de ônibus em que não se mexeu na lógica do sistema e, no final, todas continuaram nas mãos das mesmas empresas – apesar de ninguém nunca ter estado satisfeito com o serviço que vinha sendo prestado. Na verdade, a licitação permitia até que as próprias empresas definissem as propostas técnicas da operação, com a Prefeitura abrindo mão de exercer o planejamento urbano. E, hoje, o Tribunal de Contas do Município aponta irregularidades em quase todas as empresas vencedoras e vê indícios de formação de cartel. É o exemplo de conta de campanha que chega depois da eleição: é claro que os interesses privados destas empresas prevaleceram sobre os interesses públicos. E elas ganharam um contrato de 20 anos!

Assim como prevaleceram ao longo do governo os interesses privados de construtoras. Nos últimos quatro anos, os governos do Município e do Estado colocaram à venda diversos de seus terrenos para a construção civil. O batalhão da Polícia em Botafogo, por exemplo, perderá boa parte de seu terreno e, em seu lugar, devem subir novos prédios. Ao mesmo tempo, aprovou-se como nunca novas leis urbanas, todas elas autorizando prédios  cada vez maiores – é um estímulo a trocar construções antigas por outras mais novas e mais altas. Assim como na licitação dos ônibus, isso terá efeitos pelas próximas décadas. No trânsito, no meio ambiente, no mercado de imóveis.

Como se vê, a administração que é eleita com aquela forte ajuda de empresas acaba enxergando a cidade sempre do ponto de vista dos negócios – e não das pessoas.  Assim como a lógica dos negócios influenciou decisões no transporte e nas leis urbanas, também faz com que o governo privatize a gestão unidades de saúde públicas, fazendo com que entidades faturem com o dinheiro do Estado – e o Rio é hoje a capital brasileira com pior atendimento do SUS. Também faz com que projetos como o do Parque Olímpico removam moradores humildes, evitando que “atrapalhem” empreendimentos voltados para classes sociais mais altas.

Nada disso é decisão individual de Eduardo Paes; é a lógica da política atual. Mas é claro que quem a coloca em prática são políticos que não se prendem a convicções ideológicas e que têm facilidade para moldar seu discurso de acordo com as circunstâncias. O prefeito atual, por exemplo, atacou duramente a corrupção do governo Lula durante o escândalo do mensalão, afirmou que seu governo fez muito mal ao país e hoje fala orgulhoso do apoio do ex-presidente. Também já afirmou que César Maia foi o melhor prefeito que o Rio já teve, antes de começar a desdenhar da administração anterior:



Mas, além de falar sempre com desenvoltura sobre qualquer tema ou opinião, Eduardo Paes ainda conta bastante com o dinheiro que contrata os melhores profissionais para passar sua mensagem. Mesmo antes da campanha, ele já tinha consolidado sua imagem ao longo dos últimos anos usando o maior orçamento para publicidade que a Prefeitura do Rio já teve; de 2009 para 2010, por exemplo, o aumento foi de 4.400%. Não é surpresa, então, que ele tenha convencido tanta gente de que é a melhor opção e esteja perto de se reeleger em primeiro turno.

Para este tipo de coisa não continuar acontecendo, precisamos mudar as regras do jogo. Devemos passar da nossa atual democracia representativa – tocada por gente que não nos representa, devido a diversas distorções – para algum modelo de democracia participativa. Mas agora é o momento em que se escolhe quem vai, pelos próximos 4 anos, controlar o dinheiro de nossos impostos e tomar decisões que terão consequências por décadas.

A decisão está sendo tomada sem que a lógica da atual administração tenha sido realmente discutida, pela enorme diferença entre uma campanha e as demais. É importante que as pessoas possam ter, ao menos, a oportunidade de ouvir mais o outro lado, de maneira mais igual, para chegarem às suas conclusões.

Se você está decidido a votar em Eduardo Paes, eu só posso pedir que adie esta decisão. No primeiro turno, vote em qualquer outro – qualquer um, desde que não anule seu voto. Se dê a chance de pensar melhor, ouvindo mais argumentos, antes de resolver que quer mais 4 anos como os últimos. O segundo turno seria bom para todos. Inclusive os que, no final, decidirem que querem mesmo seguir como estamos.

5 comentários:

Rodger disse...

Eduardo Paes não é o candidato ideal, nem de longe. O problema é que a oposição a ele é sim, MUITO FRACA, sem propostas concretas, na maior parte do tempo se limitando a "mais do mesmo", ou seja, atacando a administração atual e fazendo propostas vazias, genéricas e até algumas absurdas, além de várias que não são sequer de competência do prefeito.

Não é mudando o prefeito que se resolve isso. O prefeito é do EXECUTIVO, ou seja, ele é o administrador da cidade. Para que haja, de fato, uma reviravolta no quadro político atual, precisamos mudar o LEGISLATIVO!

É da atuação parlamentar que se fiscaliza o executivo, se propõem leis e projetos que podem, de maneira CONCRETA, melhorar nossa cidade, estado, país.

Demonizar o prefeito por pura ideologia é um discurso muito vazio, porém típico das opositores no Brasil.

Por fim, gosto de utilizar um exemplo concreto, que é o deputado Marcelo Freixo (o qual, pela maneira do discurso, inclusive, acredito que seja o seu candidato).

No filme "Tropa de Elite 2" , em sua cena final, ficou bem demonstrado onde estava o inimigo e onde seria o campo de batalha: no CONGRESSO. Isso é um fato. O Deputado Marcelo Freixo, em sua atuação como parlamentar, foi impecável, contribuindo de maneira inestimável para o estado do Rio de Janeiro. Só que sua postura de "caçador de miliciano", embora adequadíssima ao que se espera de uma verdadeira atuação de um parlamentar (inclusive votei nele e não me arrependo), mas extremamente incompatível com a atividade executiva, que exige conciliação, e não combatividade.

Resumindo, sob meu ponto de vista, há pessoas que são inestimáveis e as quais desejo MUITO que vá para Brasília para me representar e, assim, ajudar a combater tudo que odeio. Mas elas têm que saber ONDE é o seu verdadeiro campo de batalha, para assim, se utilizando das armas certas, poder trazer um benefício para toda uma sociedade.

Rodger disse...

A propósito, dois "posts" abaixo, você coloca uma lista de promessas do Eduardo Paes para cobrar depois, dizendo que se ele fizesse pelo menos metade estaria surpreso e satisfeito.

Bom, dali acho que ele fez metade sim... Embora você não concorde com alguns resultados, ele fez...

André Monnerat disse...

Rodger, eu escrevi e realmente acho que ele foi um prefeito realizador. Não foi dos piores que tivemos e entendo quem vai votar nele, até pela comparação com o que tínhamos antes.

O problema é a lógica de como tudo funciona. Você fala em mudar o Legislativo, por exemplo, e está certo; mas a questão é que o jeito como candidaturas como essa do Paes funcionam é que matam o Legislativo, acabam com a sua função. O poder econômico das empresas interessadas entra forte na campanha e, nisso, montam uma coligação de 20 partidos que monopolizam o tempo de TV, que têm mais dinheiro que todo mundo junto. Óbvio que no final, além de eleger o prefeito, eles vão dominar a câmara e ela vai funcionar como a Andréa Gouveia descreve no texto dela que eu linkei no meu. É exatamente este tipo de coisa que eu acho que temos que combater e que as pessoas precisam ter a oportunidade de entender melhor como funcionam.

Quanto à lista do que ele fez (e, como falei, ele fez coisas sim): pelo menos tire fora o item da licitação dos ônibus. O que ele fez ali não conta. Aliás, conta contra.

Jorgete disse...

O problema não é o que ele fez, ou pretende realizar, mas sim o objetivo destas realizações. Eu não concordo com a cara do Rio atual. prédios imensos, em detrimento dos antigos, por exemplo. ele está transformando o Rio numa Mônaco. terra para turistas e para pessoas que tem dinheiro. O Rio virou realmente um grande negócio.

E eu não acho que exista algum candidato que possa mudar os rumos da coisa. por isto, voto nulo; quero plantar um novo jardim, com novas arvores. para isso precisamos do comprometimento de todos.

Marcílio Pereira disse...

Tudo que ele fez foi com esquema de desvio de verba. As obras caríssimas foram possibilitadas não por competência dele, mas por outros fatores. Exemplo: concentração dos gastos em obras, poucas obras, mas que chamam muita atenção; projeto para gringos verem, muitas coisas são do projeto que teve que ser apresentado para COI e FIFA; aumento do investimento privado na cidade, especulação por conta, principalmente dos eventos que estão por vir. Mas tudo que ele fez foi superfaturado. O esquema é conhecido, por exemplo, por todos que trabalham com obras pra prefeitura: engenheiros, arquitetos etc. 10% de tudo é superfaturado e dividido entre a empreiteira e o prefeito, na seguinte razão: 6% pro prefeito e 4% é dividido entre os profissionais e empreiteiros. Há milhares de motivos pra não votar nele, mas basta um: ele é desonesto. Além de ser, sim, INCOMPETENTE. Ele não é um administrador coisa nenhuma. É um fantoche do capital. Ele não sabe sequer responder com clareza questões relacionadas à cidade. Não conhece a cidade, a vida no Rio. É apenas acessorado de forma a dar a impressão de que conhece, e de que é um bom administrador.