27.10.08

Pra cobrar depois

Depois eu escrevo sobre o que eu acho que representa esta quase-eleição do Gabeira, do jeito que foi. Já a vitória do Eduardo Paes, também do jeito que foi, tem tudo pra significar mais do mesmo - mais quatro anos sem esperança de que algo mude pra valer, seja na vida da cidade, seja no jeito de fazer as coisas.

Mas vamos torcer pra que eu esteja muito errado e o cara faça um grande governo. O Globo publicou em seu site uma lista das suas principais promessas ao longo da campanha. É guardar e cobrar. Seleciono aqui algumas, que gostaria muito de ver realmente saindo do discurso pra entrar na realidade:

- Implantar o bilhete único nos transportes públicos - ou seja, o sujeito paga uma passagem só e pode trocar de condução pra condução, dentro de um determinado período de tempo.

- Licitar as cerca de 400 linhas de ônibus do Município e reorganizar o sistema.

- Ajudar o estado a implantar a linha 4 do metrô, da Barra a Botafogo (orçada em R$ 1,2 bilhão). Ajudar o estado a implantar o novo trajeto da linha 2 do metrô, para evitar baldeação no Estácio.

- Implantar a nota fiscal eletrônica, que permite acompanhar on line a emissão de comprovantes que geram arrecadação de ISS. O sistema é um meio de aumentar a arrecadação sem subir impostos.

- Aumentar a rede de creches, triplicando o número de vagas. Oferecer 160 mil vagas nas pré-escolas, colocando todas as crianças de 4 e 5 anos.

- Usar clubes e áreas afins para atividades extracurriculares de alunos da rede municipal.

- Instituir aulas de reforço em todas as escolas municipais, contratar mais professores e investir em qualificação e remuneração.

- Ampliar o Programa Saúde da Família, que no Rio, hoje, tem cobertura de apenas 7%. Criar 60 consultórios de Saúde da Família, funcionando em três turnos.

- Colocar os postos de saúde abrindo às 6h e fechando às 20h, com plantão permanente de clínicos, pediatras e ginecologistas.

- Criar corredores iluminados nas áreas que concentram bares e restaurantes, como a Lapa. A Guarda Municipal combaterá os flanelinhas.

- Criar um sistema de acompanhamento orçamentário municipal pela sociedade. Discutir o orçamento cidadão, uma versão do orçamento participativo.

Se, ao fim do mandato, ele tiver realmente realizado metade disso aí, já estarei surpreso e satisfeito. Tentarei cobrar, do jeito que der.

De verdade, achei a campanha de todos muito fraca de idéias. Gostaria de ver algum candidato propondo uma descentralização maior da administração da cidade, que é grande demais pra ser gerida do jeito que é. Quem mora na Zona Sul e vai aos subúrbios do Rio tem a impressão de que viajou para outra cidade, tal a diferença nas calçadas, nas ruas, na sinalização, na falta de lixeiras, de iluminação, de tudo - e isso que nós, "da elite" da Zona Sul, já achamos que tá ruim por aqui. E, no fim, a gente tem que votar cada um com a impressão que tem do que acontece à nossa volta, com a enorme maioria não tendo idéia do que acontece em pontos mais distantes.

O ideal seria ter gestores de orçamentos para as diferentes zonas da cidade, e deixar a população apitar e cobrar o uso local de seu dinheiro através do orçamento participativo. Mas os aspirantes ao cargo preferiram se concentrar em um sem número de promessas pontuais, sem falar muito em mudanças mais estruturais na forma de administrar a cidade. Sem falar no chatíssimo debate direita x esquerda, que não faz o menor sentido entre as figuras que aí estão. Basta ver que nosso prefeito eleito teve o apoio, ao mesmo tempo, de "comunistas", de gente do partido do Maluf e da filha do Roberto Jefferson.

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