4.7.07

Ganhou na loteria

Ganhou na loteria. Não contou pra ninguém, nem largou o emprego. Decidiu testar limites.

Passou a chegar sempre meia-hora atrasado. Não anotava nada nas reuniões. Foi deixando de fazer suas tarefas de rotina. Não escovava os dentes antes de ir pro trabalho.

Ninguém notou.

Aumentou o atraso para uma hora. Saía das reuniões no meio, não voltava e não dava satisfação. Só respondia e-mails com uma semana de atraso. Ia sempre com camisa e gorro da Young Flu.

Nada aconteceu.

Passou a ouvir música na caixa de som de seu computador - ora Sandy e Junior no início da carreira, ora Napalm Death. Cumprimentava as colegas fazendo fon-fon em seus seios. Encaminhou para os diretores das empresas parceiras um e-mail com link para download do filme pornô da Rita Cadillac.

Ficou mais popular. Comeu duas, as mais gostosas do escritório. Elas toparam um programa a três. Ganhou promoção e virou chefe.

Passou a ir trabalhar de bermuda e chinelo. Diminuiu o horário de trabalho de todos, principalmente o seu. E decidiu que a empresa não usaria mais computadores; reativou máquinas de escrever e mimeógrafos, contratou um serviço de pombos-correio. Os relatórios mais importantes, ele pedia que fossem entregues em papel almaço (e no memorando em que fez este pedido, chamou de "papel ao maço", mesmo sabendo que não era assim - ficou achando graça sozinho). Foi capa da Você S.A.

O telemarketing de um orfanato ligou, pedindo doação. Doou seu prêmio inteiro, só pra mulher parar de falar. A instituição nem existia, alguém embolsou tudo. Ele nem ficou sabendo.

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