9.7.07

Ei, você aí...


Uma coisa que incomoda há tempos no Rio de Janeiro é o fato de ser impossível andar pela cidade sem ser abordado pelo povo que tenta tirar seu sustento trabalhando nas ruas. É o cara que vende cacarecos ou amendoim de mesa em mesa nos botecos da Lapa, o menino com paçoca no sinal, o fulano que já chega esguichando detergente no para-brisa do seu carro, os distribuidores de papelzinho do Templo da Mãe Carmem - que traz a pessoa amada em cinco dias - e por aí vai. Mas é um incômodo que se segue de um pouco de culpa. Afinal de contas, os caras tão só tentando ganhar seu dinheiro, trabalhando. Vai se incomodar com isso?

Dois desses trabalhos passaram a "empregar" menos gente de um tempo pra cá. Um é o dos vendedores em ônibus - os caras que apareciam com ofertas imperdíveis, normalmente guloseimas. Mas já vi descascador de legumes, tabuada, caneta, bloquinho... Desde que a entrada dos passageiros passou a ser pela frente, com o camarada tendo que passar pela roleta pra chegar ao seu público, a coisa complicou. Assim como ficou ruim a vida pro tanto de gente que vivia vendendo os antigos Vales Transporte de papel nos pontos de ônibus, desde que eles se transformaram em cartões mais avançados.

Não sei se andou tendo muito mais dessas ocupações entrando em extinção e se seria essa a explicação, mas o fato é que, de um tempo pra cá, está impossível andar pelas ruas próximas à minha casa, em Botafogo, sem ser abordado por gente pedindo dinheiro. Ou prato de comida, ou fralda, ou lata de leite em pó. Todas - eu disse todas - as vezes em que saio na rua, encaro pelo menos um pedido deste tipo. Não falo nem dos mendigos sentados pela calçada com a mão estendida, que volta e meia também pedem algo em voz mais alta, mas de pessoas que vêm até você, te param, argumentam. Não raramente na portaria do meu prédio, enquanto estou com a chave na fechadura.

É óbvio que mendigos e pedintes em geral não são novidade nesta cidade que é a casa do Cristo Redentor, uma das sete maravilhas do Mundo moderno. Temos aí o desemprego, a globalização, a má distribuição de renda, enfim, mil explicações que desaguam não só nisso aí, mas também numa série de outros problemas. Mas esta situação específica está aumentando, ao menos na minha sensação, de maneira impressionante em um espaço curto de tempo. Exatamente por quê, sinceramente não sei.

(O cartum é daqui, ó: rasuralivre.blogspot.com)

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