O campeonato brasileiro deve ser de pontos corridos ou mata-mata? Os estaduais, afinal, ainda têm espaço ou são competições ultrapassadas que devem desaparecer? Será que não seria melhor adequar o calendário do futebol brasileiro ao europeu, como os argentinos, por exemplo, já fizeram?
Volta e meia aparece este tipo de discussão na imprensa, mas uma questão raramente é tocada quando se fala na organização do nosso futebol: a sobrevivência dos times pequenos. Da maneira como as coisas estão organizadas, a tendência é de que, cada vez mais, a força seja concentrada em poucos clubes. Dentro da própria primeira divisão, tudo parece caminhar para que tenhamos cada vez menos times realmente grandes, disputando títulos. E aqueles que estiverem fora da elite, então, não podem ter nem esperança em vôos mais altos; continarão pequenos sempre, se tiverem sorte de continuar existindo. Basta olhar os antigos times grandes do Nordeste, hoje se contentando com o papel máximo de iô-iô entre a série A e a B.
Escrevo isso depois de ler a notícia de que a CBF decidiu cancelar a ajuda em dinheiro que dava à série C. Eram R$10 milhões, divididos por 64 equipes - ou seja, pouca coisa para uma competição envolvendo viagens de distâncias continentais. Mas nem isso mais haverá. Já era um campeonato ingrato, com uma fórmula cruel que poderia fazer um time ser eliminado e ficar sem mais nenhum compromisso até o fim da temporada depois de no máximo meia dúzia de jogos, meses antes do fim do ano. Agora, então, como vai ser pra esse povo se planejar?
É preciso que se encontre uma maneira dos clubes menores do Brasil continuem funcionando de maneira minimamente viável. É uma questão não só cultural - já há regiões no Brasil em que o futebol local está em vias de desaparecer, com os estaduais dominados por times de empresários sobre as equipes tradicionais -, mas também de mercado. Enquanto atividade econômica, o futebol não se resume a Flamengo, Corinthians, Atlético Mineiro; muita gente vive do esporte pelo Brasil todo, entre jogadores, técnicos, preparadores físicos, jornalistas esportivos, faxineiros de vestiário, jardineiros e por aí vai. Fora que a formação de jogadores não pode ficar apenas a cargo dos grandes clubes nos principais centros; e com os times menores cada vez mais de pires na mão, cada vez mais o que sobra são os centros de treinamento de empresários, com os jovens todos já saindo amarrados em contratos os mais estranhos possíveis.
Teremos agora o início dos estaduais. No Sul, por anos o 15 de Campo Bom fez boas campanhas no Gaúcho e na Copa do Brasil e simplesmente não jogava a série C por achar economicamente inviável. No Rio de Janeiro, que tem um estadual com mais repercussão nacional, os pequenos são sempre encarados com desconfiança por quem é de fora do estado por não aparecerem na série B e não conseguirem se dar bem nem na terceira divisão. Acontece que estas equipes jogam o Carioca fortalecidas por empresários, que as usam como vitrines enquanto elas podem dar visibilidade na TV a seus jogadores (e dá-lhe Viola no Duque de Caxias!); depois, quando acaba o espaço, vai todo mundo embora e os clubes se viram na série C com o que puderem - e vai ser muito menos agora, pelo visto.
Já que se fala tanto em usar os modelos europeus, bem que a CBF poderia dar uma olhada no futebol inglês. Por lá, existem nada menos que 11 níveis de divisões - até a quinta, a organização é nacional; a partir daí, são ligas regionais que dão acesso às superiores. E isso em um país menor que boa parte dos estados brasileiros. Não seria lógico que um país-continente como o nosso pudesse se organizar com competições regionais de maneira mais racional?
Enquanto isso não acontece, a hora agora é de se preparar pra ver os times grandes e suas milionárias contratações enfrentando equipes cheias de jogadores sonhando com um emprego no resto do ano. É a grande conquisnta que esperam conseguir nos dois ou três meses que terão aparecendo na TV. Galvão, filma eu!
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