13.12.06

Quando o 007 ainda tava pegando o jeito

Lembram do último 007 da era Pierce Brosnan, o Um outro dia para morrer? Foi um filme capaz de nos apresentar um pega com um Jaguar invisível na neve, um palácio inteiro de gelo no Pólo Norte, uma arma espacial que usava raios solares pra destruir alvos na Terra e um herói fazendo kite-surfing em um tsunami. Talvez pressionado pelas façanhas de Tom Cruise na série Missão: Impossível, James Bond vinha em seus últimos filmes tentando cada vez mais chegar onde o homem nunca chegou. Eu achava a canastrice bem divertida, mas tinha um quê de Joãosinho Trinta.

Ontem assisti ao novo Casino Royale, baseado no romance de Ian Fleming que apresentou o personagem ao mundo. E devo dizer que é um filme quase naturalista em comparação com os anteriores. A tal canastrice ainda está lá, claro, mas em níveis bem mais controlados. Imagino que boa parte dessas diferenças no tratamento do personagem venham mesmo do livro original, que eu não li e nunca tinha sido filmado. Mas a escolha de colocar isso na tela agora traz uma quebra no que a gente está acostumado na série e vai na contra-mão do caminho que os últimos filmes estavam seguindo.

Realmente, ainda bem que trocaram de ator, porque ia ser esquisito ver o Pierce Brosnan nessa nova-velha onda - que já se anuncia logo no início, no primeiro assassinato da carreira do agente. A amiga ao meu lado no cinema estranhou na hora, "achei que o James Bond matava de maneira mais elegante, tá parecendo morte de filme do Scorsese!". Como o filme mostra as primeiras missões de Bond, James Bond como agente 00, dá pra imaginar que o lance é que ele ainda não tinha desenvolvido completamente o estilo.

Fora o estilo da ação do filme - e tem muita ação mesmo, e bem feita -, dá pra sentir falta de muita coisa que costuma se esperar de um 007. O carro do agente é tímido, as engenhocas praticamente não aparecem e, apesar de ter seus momentos, o Bond não tá lidando da mesma maneira com as mulheres não. Na verdade, a gente percebe que o agente nos tempos de calouro era bem mais falível mesmo, não só no relacionamento com o sexo oposto - o que não deixa de ser interessante. Agora, na Bond Girl principal, eles capricharam. Não é à toa que a moça deixa marcas no cara.

O filme é bom, melhor do que o que vinham fazendo com 007 nos anteriores, mas você tem que se acostumar que é uma onda um pouquinho diferente. O desenvolvimento da narrativa parece a de um videogame daqueles antigos, em que o herói ia completando uma missão por fase, sempre enfrentando um chefão no final pra poder passar pra próxima. Elas vão se encaixando e o ritmo é bom; pra duração do filme (2h20!), corria o risco de ser bem mais cansativo. Os diálogos deram um belo salto de qualidade - Bond tem umas tiradas muito boas mesmo. E pra mim ainda tem o apelo extra do pôquer (pois é, além de filmes de baseball, eu também gosto muito de filmes de pôquer).

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