13.10.16

Fazendo história

Li qualquer coisa do Temer ter dito, no jantar em que pediu aos nobres deputados apoio à PEC 241, algo como "estamos aqui para fazer história". E depois li algumas críticas a isso, até falando em "presunção".

Não me parece presunção nenhuma. Ele tá lá pra fazer história mesmo. Passou o impeachment, o governo dele começou pra valer e tem tudo pra deixar um legado de longo prazo.

Começou pelo orçamento. A PEC quer definir um período de 20 anos em que obrigatoriamente teremos uma trajetória de diminuição dos gastos per capita do Estado (exceto Previdência e pagamento de dívida), inclusive com redefinição dos pisos para saúde e educação que estão na Constituição. Não é um corte de gastos para resolver uma conjuntura, mas sim parte importante de um plano de longo prazo para redefinição do papel do Estado.

O plano vai seguir em frente com a reforma da Previdência, isso já está anunciado. Em seguida, deve ser a trabalhista. No meio disso aí, ainda tem uma mudança importante sendo colocada na lógica do ensino fundamental. Juntando tudo isso, é uma tremenda refundação. E não duvido de outras novidades grandes em outras áreas entrando na fila. Serão dois anos e meio muito intensos.

Reparem: a PEC sofre muitas críticas, está longe de representar algum consenso na sociedade. E Temer tem hoje uma popularidade muito, muito baixa. Tem uma porção de prefeituras sendo disputadas neste momento. Nada disso fez diferença nenhuma: a aprovação em primeiro turno foi com votação estrondosa entre os deputados.

É fato que estão tentando construir um país muito diferente. E tem algo que dá pra enxergar sendo simpático ou não ao desenho: está sendo feito totalmente de cima pra baixo. Nosso modelo representativo é enormemente falho; mas mesmo dentro dele, nada disso passou por convencimento nenhum da população em época de eleição (não vou nem entrar na discussão sobre legitimidade do Temer e não precisam me dizer que ele e esta Câmara foram eleitos - é fato que estas propostas aí não foram.)

Pra dar uma aliviada na aceitação geral, estão apenas aumentando gastos em publicidade do governo pra vender estes peixes. Mas vejo um desprezo grande aí pela ideia de que deve haver um processo democrático pra decidir os destinos da sociedade, sem que pareçamos nos importar muito com isso. "Não dá pra esperar", é a justificativa. É, pode ser.

Me peguei pensando que, se for mesmo aprovada a PEC 241, ela vai expirar quando minha filha mais nova estiver com 21 anos. Pode ser que ela esteja pelo fim da faculdade, talvez se preparando pra arrumar um primeiro emprego pra valer (ou não, vai saber). Imagino que efeitos tudo isso vai ter até lá.

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